Novos critérios de avaliação da produção científica
INOVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE PROJETOS EM JORNAIS SÃO NOVOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
(Jornal da Ciência, 5/3/2012)
O
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
vai acrescentar, na plataforma eletrônica Lattes, que traz currículos e
atividades de 1,8 milhão de pesquisadores de todo o País, duas novas
abas para divulgação pública. Em uma delas, os cientistas brasileiros
informarão sobre a inovação de seus projetos e pesquisas; e na outra,
deverão descrever iniciativas de divulgação e de educação científica.
Com
a mudança, cientistas de todos os campos de investigação deverão
descrever, na Plataforma Lattes, dados sobre a organização de feira de
ciências, promoção de palestras em escolas, artigos e entrevistas
concedidas à imprensa - além das informações básicas como dados
pessoais, formação acadêmica, atuação profissional, publicações, linhas e
projetos de pesquisa, áreas de atuação e domínio de idioma
estrangeiros. A intenção do CNPq é aumentar o conhecimento da sociedade
sobre as atividades científicas que ocorrem no País.
"No século
21, o cientista reconhece seu papel de engajamento na sociedade. Ele
sabe que está sendo pago e financiado e que deve uma prestação de contas
sobre o que faz", disse o presidente do CNPq, Glaucius Oliva. "Ainda há
um fosso grande entre aqueles que fazem ciência e aqueles que consomem e
financiam a ciência. A sociedade não conhece com profundidade toda a
riqueza com que a ciência brasileira tem contribuindo para o
desenvolvimento nacional", avaliou.
Segundo Oliva, passou a ser
papel dos cientistas dar publicidade às atividades de pesquisa, mostrar
experimentos e explicar projetos para o público, e ligar o trabalho a
inovações que contribuam com as políticas públicas e até mesmo para a
criação de novos produtos a serem lançados no mercado.
A mudança na
plataforma Lattes poderá ocorrer em até dois meses. O modelo e a
funcionalidade das abas já estão formatados e respeitarão as regras de
transparência de informações públicas. O CNPq muda já na próxima semana o
portal www.cnpq.br que, entre outras funções, permite acesso à
plataforma Lattes.
Os novos dados informados serão considerados
pelos 48 comitês de avaliação do CNPq quando forem aprovar projetos de
pesquisa e conceder bolsas de estudo a professores e estudantes
universitários. O conselho terá indicadores para avaliação dos trabalhos
científicos em quesitos de inovação e de produção em divulgação
científica, como ocorre hoje com a cobrança de publicação de artigos
científicos, os papers, em revistas especializadas, inclusive do
exterior.
Desde junho do ano passado, o CNPq exige, na submissão
eletrônica das propostas de pesquisa e nos relatórios eletrônicos de
concessão científica, que sejam descritos, "em linguagem para não
especialistas", a relevância do que está sendo proposto e os resultados
atingidos. "Com isso, eu passo a ter um banco fantástico para alimentar
[com dados] os jornalistas", promete o presidente do CNPq. Segundo
Oliva, o sistema terá busca de projetos e relatórios por palavras-chave,
instituição e área geográfica. Por ano, cerca de 15 mil propostas de
pesquisa são recebidas pelo conselho no edital universal (para todas as
áreas do conhecimento).
Com a divulgação das propostas e
relatórios, a expectativa de Oliva é despertar o interesse de "jovens
talentos" para a ciência e criar uma nova cultura acadêmica em quatro
anos - aproveitando o aumento significativo de novos mestres e doutores
formados no Brasil. Na década passada, esse número dobrou, tendo
atingido mais de 50 mil em 2009.
Além de mudar a cultura no
ambiente acadêmico, o presidente do CNPq imagina que a divulgação de
trabalhos e a educação científica possam alterar o comportamento social.
"As pessoas têm que usar a ciência no dia a dia. Entender, por exemplo,
que há relações de causa e efeito", observou. "Educar para os valores
da ciência e para o método científico na vida pessoal nos protege de
extremismos e intolerâncias", acrescentou Oliva.